O CRONOTOPO GÓTICO MODERNO EM A BELA ESQUINA, DE HENRY JAMES
Natasha Vicente da Silveira Costa | 59-79 DOI - https://doi.org/10.29327/2402731.8.2-4
O sobrenatural, a noite, os castelos ancestrais, as masmorras e os cemitérios demarcam as convenções do gótico no século XVIII, no contexto intelectualizado do Iluminismo. Depois, com a modernidade do século XX, o gênero persiste: mas como o gótico sobrevive no mundo moderno sem pântanos gotejantes? Analisamos aqui cronotopo no conto gótico A bela esquina, publicado por Henry James em 1908. Recorremos, para essa análise, ao cronotopo de Mikhail Bakhtin (1988, 2011) e às considerações sobre o gótico principalmente de Catherine Spooner e Emma McEvoy (2007), Dani Cavallaro (2002) e Eric Savoy (2002). James dialoga com as convenções góticas sem se limitar ao sobrenatural, às visões do passado, à casa ancestral e ao crepúsculo. A bela esquina renova o gênero apresentando um cronotopo gótico moderno: o tempo e o espaço são duplicados e envolvem, pela personificação e coisificação, uma correspondência entre as personagens e o inanimado. Nessa ressignificação, o gótico resiste pela habilidade de ameaçar as identidades que acreditamos possuir e desmascarar as pretensões de civilização. O conto, assim, pode ser lido como uma crítica jamesiana à ideologia progressista de seu país natal.
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