REALIDADE E IMAGINAÇÃO: UM PERCURSO SOBRE REPRESENTAÇÕES DO ESPAÇO A PARTIR DOS ROMANCES TERRA SONÂMBULA E MÃE, MATERNO MAR
Everton Fernando Micheletti | 68-82
No levantamento teórico sobre as características do espaço nos romances Terra sonâmbula do moçambicano Mia Couto e Mãe, Materno Mar do angolano Boaventura Cardoso, surgiram algumas divergências teóricas em torno das questões de representação. De um lado, há as representações objetivas do espaço, sobretudo quanto à realidade histórica, de outro, as representações subjetivas, com os valores atribuídos ao espaço conforme as tradições ancestrais, a religiosidade, os mitos. O primeiro aspecto, além de remeter às formas do realismo do século XIX, e de sua continuidade em obras de períodos posteriores, conduz também a Bakhtin e seu conceito de cronotopo, em que espaço e tempo seriam decisivos para a objetividade no romance. O segundo aspecto levou a autores como Bachelard, Durand e Eliade, visto que, abordando as características gerais do imaginário e das valorizações mítico-religiosas, tendem à prevalência da subjetividade. O problema que se forma, desse modo, consiste em um conjunto de oposições entre os dois aspectos, o que se propõe discutir verificando se há possibilidade de síntese. Para tanto, recorre-se a outros referenciais teóricos, expandindo a busca por respostas a outras áreas, como a da Geografia, em especial à obra de Edward W. Soja.
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