NARRATIVAS ESPACIALIZADAS: UM ESTUDO DE MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR, DE OSWALD DE ANDRADE, E DE CONFISSÕES DE RALFO, DE SÉRGIO SANT’ANNA
Daiane Carneiro Pimentel | 81-90
Este artigo propõe-se a investigar a estruturação espacial em Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade, e em Confissões de Ralfo, de Sérgio Sant’Anna. Ambos os romances assumem um caráter de mosaico, na medida em que são compostos por elementos descontínuos, os quais devem ser apreendidos espacialmente. Memórias sentimentais de João Miramar apresenta um “estilo telegráfico”, o qual é fruto da montagem de fragmentos e produz um efeito de simultaneidade. As noções de linearidade e de sucessão, as quais sustentam a ideia de que a literatura é uma arte temporal, também são problematizadas em Confissões de Ralfo, romance composto por nove pequenos livros os quais constituem unidades distintas. A descontinuidade é intensificada pelo fato de textos de autoria e de gêneros diversos terem sido incorporados à narrativa de Ralfo. Acredita-se que a estruturação espacial torna-se um fator decisivo para que se discuta o próprio conceito de obra, tradicionalmente entendida como algo unívoco e total. Os dois romances mencionados colocam em questão tal perspectiva, ao privilegiarem o estabelecimento de múltiplas relações entre os fragmentos que compõem a narrativa.
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