O NAVIO E O MAR: ESPAÇOS DE DESTRUIÇÃO E (RE)CONSTRUÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA EM UM DEFEITO DE COR ANA MARIA GONÇALVES
Sandra Maria dos Santos | 57-67
O presente artigo tem por objetivo analisar alguns aspectos relacionados à constituição do espaço ficcional do romance metaficcional historiográfico Um defeito de cor de Ana Maria Gonçalves (2006). A obra, representante da literatura afro-brasileira contemporânea, apresenta no que se refere à espacialidade uma edificação gigantesca, dado o grande número de ambientes nos quais se passa a história. Transitando entre dois grandes continentes, o africano e o americano, que dialogam contraditoriamente entre si, intercambiando vidas, destinos, dores e alegrias, separados pela imensidão do mar, ora calmo, ora agitado. A autora constrói um rico painel narrativo e geográfico passando por todos os grandes momentos de lutas, derrotas e conquistas sociais e históricas do Brasil no século XIX. Aqui daremos ênfase ao espaço marítimo atlântico, oceano e navio, palcos de mitos, lendas, verdades e agruras sobre a saga dos africanos trazidos escravizados para o Brasil. O navio, como propulsor de mudanças radicais de vidas e histórias aparece por três vezes na narrativa, a cada uma com função distinta da anterior. As travessias atlânticas empreendidas por Kehinde, narradora protagonista, nos apresenta a figura do mar e do navio como espaços paradoxais, topofóbicos e topofílicos.
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