LITERATURA, ESPAÇO E PANDEMIA/ENDEMIA: O CONTO “A DOENÇA”, DE DOMINGOS MONTEIRO, ÍNSITO NA OBRA A VINHA DA MALDIÇÃO E OUTRAS HISTÓRIAS QUASE VERDADEIRAS (DE 1969)
Fernando Alexandre de Matos Pereira Lopes | 65-93
Na novelística de Domingos Monteiro, o conto
“A Doença” (título já de si catafórico em relação à diegese
construída) configura-se como uma narrativa romântica,
onde coabita o trágico e a representação do espaço lírico,
a lembrar, por vezes, Húmus, de Raul Brandão. Nesta
short-story, o Brasil é o espaço privilegiado,
nomeadamente o Amazonas e os seus rios, evocado
como espaço da memória, a partir de uma espaço da
narração, em que o protagonista institui o seu
interlocutor como narratário, de acordo com a
terminologia de Gerald Prince, cultivando o autor textual
a técnica da narrativa enquadrada, que lhe é bem
peculiar. A propósito da doença contagiosa patenteada,
que é a lepra/morfeia, enveredamos por uma reflexão
sobre a ligação constitucional do homem com a matéria,
entendendo-se o corpo também como um espaço, cuja
função primordial é estabelecer uma ligação entre o
espírito e o mundo, de acordo com a teoria MerleauPonty, Husserl e Michel Collot.
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